O que é um adufe?
Em Portugal, no séc. XXI, a palavra adufe é usada para definir o instrumento de percussão tradicional português, frame drum, bimembranofone, com forma quadrangular (ou triangular, variação muito rara), ornamentado nos cantos e com soalhas no seu interior, cuja identidade e singularidade emana da Tradição Oral das cantigas, das danças e do toque do adufe da região de Idanha-a-Nova e do Paúl (Covilhã)… Ler mais
A confusão da forma quadrangular
O adufe é recorrentemente confundido com outros instrumentos quadrangulares, tais como: o pandero cuadrado de Peñaparda (Espanha), o pandeiro mirandês (do Nordeste de Portugal) e com outros pandeiros de forma quadrangular da Península Ibérica (Astúrias, Galiza – onde também encontramos o termo adufe – e Catalunha). Ler mais
O adufe e a família dos frame drums
Se por um lado a Tradição do Adufe e o seu contexto o distinguem de todos os outros frame drums, por outro lado, as práticas a ele associadas – as cantigas, o toque do adufe e a adoração de uma figura feminina (Nossa Senhora) – mostram-nos a ligação evidente a uma família de instrumentos que podemos encontrar amiúde nas diversas culturas e povos do Mediterrâneo e resto do Mundo – os frame drums. Ler mais




“os árabes trouxeram o adufe no séc.VIII” é apenas uma hipótese
As mais antigas representações de instrumentos quadrados que se conhecem datam de cerca de 2000 AC (Egipto Antigo e Mesopotâmia) depois temos de avançar quase 3000 anos até a primeira iconografia conhecida na Península Ibérica (séc. X). Ler mais
Primeiras fontes ibéricas, Iconografia e o Vaso de Tavira
Consultando os anexos da tese de Ana Dias (ver bibliografia abaixo), vemos que a iconografia mais antiga que se conhece de um instrumento quadrangular na Península Ibérica pertence ao contexto cristão e situa-se na Real Colegiata de San Isidoro de León, na Puerta del Cordero, Menestréis do Rei David (1063). Ler mais

O adufe na região Idanha-a-Nova
“Nós não somos mais do que ninguém, limitamo-nos a fazer aquilo que fazemos, bem feito, porque trabalhámos muito para o fazer bem feito e com dignidade, de maneira a que quando estamos no palco estamos a representar os nossos antepassados, estamos a representar uma época, e, fazemo-lo com toda a dignidade, com a mesma dignidade com que eles nos deram esse legado e é com essa dignidade que queremos continuar a cantar.“
Amélia Fonseca, Adufeiras de Monsanto
Idanha-a-Nova (e os concelhos vizinhos) é um dos pilares da Tradição do adufe. Praticamente, todas as freguesias têm um grupo de adufeiras ou um rancho folclórico onde os adufes estão presentes. Ler mais
O adufe no Paúl, Covilhã
Na aldeia do Paúl, na Covilhã, o adufe tem no Grupo de Adufeiras da Casa do Povo do Paúl um dos mais dinâmicos grupos da actualidade. Dança-se, canta-se e toca-se adufe em simultâneo, num exercício de coordenação impressionante. As adufeiras do grupo, dirigidas pela Leonor Narciso, para além de cantarem o repertório antigo, exploram o adufe performativamente, introduzindo-o em praticamente todos os momentos da vida colectiva: cantares, danças, cantilenas, lengalengas, jogos rítmicos, rimances, rituais quaresmais, encomendação das almas e espectáculos. São frequentemente convidadas para dar workshops de adufe em grandes festivais de Verão, como, por exemplo, o Andanças. Ler mais
Cantigas de adufe: prática e repertório
Por todo o mundo, e desde tempos antigos, os frame drums acompanham a voz (e a dança).
Em Portugal, as cantigas de adufe caracterizam-se por uma melodia estrófica cantada em uníssono, ou seja, todo o grupo canta a mesma melodia que se vai repetindo, em todas as estrofes e refrão. Os adufes, também em uníssono, acompanham o canto, sustentando-o através da repetição ad aeternum de um padrão rítmico binário ou ternário, sem variações. A pulsação oscila subtilmente ao longo da música de acordo com o canto, a letra e a respiração dos executantes. Não há referências tonais, nem progressões harmónicas, a cantiga é cantada num tom implícito e confortável para o grupo, que advém da experiência de cantar juntos. Ler mais
Os ritmos tradicionais
Até muito recentemente (quando iniciei a pesquisa em 2010), os ritmos de adufe era compreendidos de uma forma muito redutora. Não havia distinção do papel das mãos na articulação dos mesmos: mão dominante que conduz o ritmo e a mão não dominante ornamenta. Ler mais
Galeria de Adufeiras
Conheça aqui os rostos de muitas das mulheres que são as figuras centrais da Tradição, assim como as novas adufeiras que surgem em contextos urbanos. Ler mais
Galeria de Adufeiros
Apesar de ser um instrumento feminino, hoje há vários homens a tocar: uns que conhecem os toques e cantigas tradicionais, integrando os grupos tradicionais; outros dão novas perspectivas ao adufe. Ler mais
Construção tradicional
“Os armas do meu adufe, são de pau de laranjeira. Quem quiser tocar nele, há-de ter a mão ligeira.“
Na minha tese (ver bibliografia), dedico o capítulo II à análise do processo de construção tradicional. Aí procuro resumir os métodos e materiais utilizados. Aconselho também a leitura dos anexos a entrevista a José Relvas (p.80), mestre artesão, guardião do Saber expoente máximo da construção artesanal de adufes:
“Tenho treze a catorze modelos. O 40 por 40 é o profissional. O resto é decoração e para as crianças.” Ler mais
Artesãos
Em Idanha, há vários artesãos de adufes activos como José Relvas ou a Fátima Silva (Adufartes). A própria Câmara Municipal criou nos anos 90 a Oficina de Artes Tradicionais, onde são construídos milhares de adufes, que são vendidos e oferecidos como símbolo do Município. Em Salvador, concelho de Penamacor, podemos encontrar Armando Vinagre, provavelmente o mais velho artesão ainda em actividade. Em Castelo Branco, no centro da cidade, podemos comprar adufes a Francisco Caramelo.
Fora do contexto tradicional, nas cidades, constroem adufes a Oficina de Artesanato César de Ermesinde e o Sr. António Carneiro (ambos de famílias com tradição na construção de bombos e caixas). Em 2013 lancei a minha marca Adufes Rui Silva. Actualmente, a Bárbara Trabulo, a Silvana Dia (Casulo Instrumentos) e a Oficina Faceadinha (Afonso Passos e Nuno Xandinho) também estão a construir. Ler mais
O adufe no século XXI: marcos importantes
Como me disse Amélia Fonseca das Adufeiras de Monsanto : “o Adufe está vivo! E Já não morre!”
Para além da profusão de grupos e adufeiras do contexto tradicional, o adufe tem encontrado grande receptividade nos centros urbanos do litoral do país. Aliás, desde os tempos da Revolução de Abril que foi um instrumento símbolo da cultura Tradicional e do mundo rural. Ler mais
O Projecto Al-Duff: a descodificação da Tradição
Em 2012, comecei o projecto Al-duff, no seguimento da minha tese de mestrado, realizada na ESMUC/UAB em Barcelona.
Foi acima de tudo um trabalho de Investigação/experimentação performativa no âmbito da Música Antiga que procurou compreender o adufe como instrumento mediterrânico e não apenas da Beira Baixa, relacionando-o com outras tradições e instrumentos da mesma família. Ler mais

Onde aprender adufe actualmente?
Fora do contexto tradicional, nas cidades do litoral, multiplicam-se as oportunidades de formação e os grupos onde se aprende a tocar e cantar com o adufe. São vários formadores que têm tido um papel extremamente importante na divulgação do adufe e na preservação do seu uso. Ler mais
O pandeiro mirandês (que não é um adufe)
A palavra pandeiro, segundo Mauricio Molina, terá a sua origem a partir do árabe bandayr, aparecendo em fontes mais tardias na Península Ibérica (séc. XV, XVI).
“Pandeiro” em Trás os Montes ou “Pandeiro Mirandês” (de Miranda do Douro), é no séc. XXI um instrumento de percussão tradicional portuguesa, frame drum, bimembranofone de formas diversas (o que o distingue claramente do adufe, além das suas dimensões serem mais reduzidas): triangular, hexagonal, pentagonal, losangular e quadrangular. Dentro do instrumento podem ser colocados bordões, guizos ou sementes. Ler mais
O insuficiência dos registo audio-visuais e o futuro da Tradição
Haciéndola. No hay otra manera. Por supuesto grabar, filmar es imprescindible. No mantiene necesariamente una tradición pero por lo menos queda documentada. Reunir estudiosos es muy divertido para los estudiosos, pero no suele ayudar nada a las tradiciones. (Judith Cohen, 2012. parte da sua resposta à questão: como poderemos preservar a tradição? vide Anexos – Entrevista a Judith Cohen) Ler mais
As narrativas sobre o instrumento: o marketing turístico, a popular, a mística e a académica
O adufe é um instrumento tradicional, social, espiritual, popular, místico, religioso, mágico.
Existem um sem fim de narrativas e histórias que procuram caracterizar o adufe e o seu contexto. São valiosas e singulares porque reflectem a paixão, fascínio, interesse e o impacto que o instrumento causa. Ler mais
Obras e autores a ler… (em construção)
SILVA, Rui – “Al-duff: bases para a aplicação das técnicas de frame drums mediterrânicos ao adufe, séc. XXI adentro.” Barcelona, 2012. Tese de mestrado ESMUC/UAB.
SILVA, Rui – “Adufe para o séc. XXI: sem braseiro, sem secador de cabelo, sem cobertor eléctrico” (cap. 9, pp. 142-157, Iconografia Musical: organologia, construtores e prática musical em diálogo CESEM, Universidade Nova, 2017 )
SILVA, Rui – “Adufe, the portuguese frame drum” – SILKROADIA Web Magazine Vol.3 No 2. 2021.
Multimédia
128 vídeos sobre o adufe na actualidade, em A Música A Gostar Dela Própria de Tiago Pereira.
Canal Youtube Adufes Rui Silva
Canal Youtube Flávio Pinho
NOTA 1: Nesta página consta apenas excertos dos artigos sobre cada tema. Para ler mais, basta clicar em Ler mais de baixo cada excerto.
NOTA 2: Esta página não é um crivo de nenhuma espécie. Pretende celebrar as pessoas e a Tradição do Adufe. Caso identifiquem qualquer erro, imprecisão ou omissão ou caso queiram criticar, sugerir ou acrescentar conteúdo podem usar o meu email: ruisilvaperc@gmail.com