Quando comecei a aprender adufe e a procurar materiais didácticos (cerca de 2010), para além de não ter encontrado quase nada (para além de transcrições de cantigas com algumas indicações dos padrões rítmicos e peças de filarmónica), observei que os ritmos de adufe era compreendidos de uma forma muito redutora e pouco adequada ao adufe.

A escrita para adufe era semelhante à usada para caixa, por exemplo. Como se observa, não há distinção entre os golpes, assume-se que o adufe só dá um som e que as mãos soam igual, o que não corresponde de todo à realidade.
Sons básicos
O adufe tem três sons básicos Dum, Tá e Ki. Estas sílabas foram adaptadas por mim em 2012 e representam o som e ao mesmo tempo indicam qual a mão que devemos usar (D, T são tocados com a direita, Ki com a esquerda).
Genericamente, o Dum é o som grave, o Tá o som agudo e o Ki o som ornamental, que preenche o padrão rítmico. (ver Método de Adufe – parte I iniciação, pp.4 a 7, para uma completa descrição da técnica e do som).

Tal como em outros frame drums, os padrões rítmicos são construídos através da alternância entre Dum e Tá, ornamentados ou não com Ki.
Uma das coisas estranhas que se via recorrentemente, era alguém tocar o ritmo ternário apenas no som Dum, de forma a obter mais graves e mais volume, uma prática que não faz sentido na linguagem dos frame drums.
Ritmos Tradicionais
Aqui podem ver a minha transcrição dos padrões rítmicos tradicionais que tenho observado em Idanha. (Faltam aqui os ritmos do Paúl, que serão estudados em breve.)

Os ritmos tradicionais portugueses de adufe dividem-se em dois grupos Binário (“de passo”) e Ternário (“de roda”, designações usadas em Monsanto; desconheço se se diz assim em outras aldeias).
Durante o meu trabalho de campo e na análise de registos audio/audio-visuais só observei estes dois padrões rítmicos. Com eles é possível acompanhar todas as cantigas de adufe: o mesmo padrão rítmico é tocado mais lento ou mais rápido consoante a cantiga. É possível que tenha havido outros padrões rítmicos e outras variantes na execução.
Ornamentação
Para aprender os ritmos é necessário consolidar primeiro o papel da mão dominante e só depois aprender a ornamentar com a esquerda. A mão dominante é responsável por conduzir o ritmo e assim suportar o canto.
Dentro do mesmo grupo, por exemplo, há várias formas de tocar o mesmo padrão rítmico, com mais ou menos ornamentação. A capacidade de ornamentar mais ou menos depende da destreza de cada adufeira e da sua habilidade em coordenar o toque do adufe com o canto.
Há adufeiras que só tocam com a mão direita, há outras que ornamentam uma vez com esquerda (toque singelo) e há ainda outras que ornamentam duas ou mais vezes (toque dobrado). Como todas a tocam o mesmo padrão com a mão dominante, os ritmos encaixam, soam em uníssono e o resultado final é o que reconhecemos quando ouvimos um grupo de adufeiras.
A execução dos ritmos varia de aldeia para aldeia e de adufeira para adufeira. Tradicionalmente, as adufeiras de uma aldeia só tocam com as adufeiras dessa mesma aldeia. E, não se sentem confortáveis a tocar com adufeiras de outra aldeias, dadas as nuances existentes na execução dos padrões rítmicos, que acabam por não encaixar.
A linguagem rítmica tradicional do adufe é relativamente simples, a sua função é acompanhar o canto. Os padrões são repetidos, sem variação, ao longo da cantiga. (Ver cantigas de adufe)
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