Por todo o mundo, e desde tempos antigos, os frame drums acompanham a voz (e a dança).

Em Portugal, as cantigas de adufe caracterizam-se por uma melodia estrófica cantada em uníssono, ou seja, todo o grupo canta a mesma melodia que se vai repetindo, em todas as estrofes e refrão. Os adufes, também em uníssono, acompanham o canto, sustentando-o através da repetição ad aeternum de um padrão rítmico binário ou ternário, sem variações. A pulsação oscila subtilmente ao longo da música de acordo com o canto, a letra e a respiração dos executantes. Não há referências tonais, nem progressões harmónicas, a cantiga é cantada num tom implícito e confortável para o grupo, que advém da experiência de cantar juntos.

O grupo de adufeiras é normalmente dirigido pela adufeira mais conhecedora dos toques e cantigas e que é naturalmente reconhecida por todos os elementos. É ela que marca o início das cantigas e o fim, o ritmo dos adufes, as respirações e o fim da música.

A transcrição de melodias utilizando a notação ocidental e o temperamento igual (12 meios tons iguais), pode, na minha opinião, retirar às cantigas a sua essência oral, ou seja, muitas vezes, o transcrito em nada se parece com a origem, uma vez que os intervalos são “corrigidos”, e leva, muitas vezes, à tentação de harmonizar. Acredito que prática das cantigas de adufe está mais próximas das práticas antigas mediterrânicas (melodia e ritmo) do que do sistema harmónico moderno ocidental, pelo que idealmente sejam aprendidas por via oral, directa (com as adufeiras) ou indirectamente (através de registos audio-visuais).

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