Em 2012, comecei o projecto Al-duff, no seguimento da minha tese de mestrado, realizada na ESMUC/UAB em Barcelona.

Foi acima de tudo um trabalho de Investigação/experimentação performativa no âmbito da Música Antiga que procurou compreender o adufe como instrumento mediterrânico e não apenas da Beira Baixa, relacionando-o com outras tradições e instrumentos da mesma família.

Foi feito um estudo multidisciplinar e abrangente do adufe que abrangeu o contexto histórico-musicológico, o trabalho de campo no contexto tradicional junto das Adufeiras (técnica tradicional, linguagem rítmica, as cantigas de adufe) , todo o processo construtivo junto dos Artesãos tradicionais e, por fim, a experimentação de novas possibilidades técnicas e contextos musicais e a criação de um método de ensino de adufe universal dos ritmos e da técnica tradicional portuguesa.

Daqui resultou uma compreensão holística do instrumento que se tem vindo a aprofundar e que nunca mais parou até aos dias de hoje.

Os objectivos principais deste projecto foram: elevar a construção e a performance do adufe a um nível profissional e de excelência; divulgar, promover e preservar o Adufe, fazendo com que mais pessoas participem na sua Tradição.

O processo de ensino

Do meu ponto de vista, até 2012, havia dificuldades na aprendizagem do adufe e na sua difusão porque não existia um método sistematizado de ensino, não havia conteúdos e oportunidades didácticas satisfatórias. Para além disso, o enfoque era no canto. O adufe era aprendido como algo secundário.

Na própria Tradição Oral, os ritmos não são compreendidos como algo distinto do canto, não existem per si. Não se ensinam os vários golpes de forma individualizada e nem se reconhecem os diferentes sons do adufe como elementos técnicos a praticar.

Não há noções sistematizadas da postura ou do papel de cada mão ao tocar.

O ensino do adufe é feito de forma puramente oral e intuitivo, como é natural: aprende-se a fazer, tocando e a cantando juntamente com as Adufeiras.

Daqui nascem vários problemas caso não pertençamos ao contexto tradicional e se só sejamos expostos a este processo de aprendizagem esporadicamente, tais como: a incompreensão dos padrões básicos, o tempo demasiado rápido das cantigas (para quem começa), a colocação e coordenação das mãos, a alternância dos golpes e a execução satisfatória dos diferentes sons, o equilíbrio do adufe, a posição do adufe em relação ao corpo e a postura corporal…

Por outro lado, havia já momentos importantes de formação fora do contexto tradicional, como por exemplo: os dinâmicos workshops das Adufeiras do Paúl no Festival Andanças; os workshops de instrumentos tradicionais do GEFAC, em Coimbra; ou o curso de adufe da Academia INATEL que ainda hoje funciona.

A revolução no ensino e a utilização de sílabas indianas

A partir do meu projecto AL-DUFF o enfoque passou a estar na execução do adufe, na técnica do instrumento e na qualidade de som, ao qual aportei os meus conhecimentos e experiência percussionista profissional.

Tal como aconteceu com outros frame drums, que conheceram uma grande popularização e crescente número de performers, a minha adaptação das sílabas do sistema rítmico indiano ao ensino do adufe tornou fácil a compreensão dos sons e a memorização/articulação dos ritmos.

Esta inovação consta na minha tese de mestrado (2012) e tem sido implementada nos meus workshops de forma inédita desde essa altura.

Permitiu ainda que todas as pessoas que já tocavam outros frame drums pudessem tocar adufe facilmente. Esta inovação colocou o adufe dentro do movimento global de redescoberta dos frame drums que se iniciou nos EUA, com Glen Velez, por volta de 1970 e que se mantém até hoje com instrumentistas e festivais especializados (como, por exemplo, o Tamburi Mundi, em Freiburg, onde participo desde 2013 como músico, formador e artesão).

Tamburi Mundi 2013.
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