Artesãos

Em Idanha, há vários artesãos de adufes activos como José Relvas ou a Fátima Silva (Adufartes). A própria Câmara Municipal criou nos anos 90 a Oficina de Artes Tradicionais, onde são construídos milhares de adufes, que são vendidos e oferecidos como símbolo do Município. Em Salvador, concelho de Penamacor, podemos encontrar Armando Vinagre, provavelmente o mais velho artesão ainda em actividade. Em Castelo Branco, no centro da cidade, podemos comprar adufes a Francisco Caramelo.

Fora do contexto tradicional, nas cidades, constroem adufes a Oficina de Artesanato César de Ermesinde e o Sr. António Carneiro (ambos de famílias com tradição na construção de bombos e caixas). Em 2013 lancei a minha marca Adufes Rui Silva. Actualmente, a Bárbara Trabulo, a Silvana Dia (Casulo Instrumentos) e a Oficina Faceadinha (Afonso Passos e Nuno Xandinho) também estão a construir.

A Sara Mercier, segundo o relato do Edgar Valente, teve a oportunidade de aprender a construir adufes com José Relvas.

José Relvas sempre recebeu todas as pessoas, com grande generosidade e disponibilidade, colaborou em inúmeras entrevistas e artigos sobre o adufe, mas nunca ensinou ninguém a fazer adufes. O próprio sempre me afirmou, em comunicações pessoais, que não ensinaria ninguém a construir adufes e os seus segredos ficariam para si.

Adufes Rui Silva: inovação na construção e a evolução na performance

Como artesão/percussionista sempre me entusiasmou todo o processo (criativo, manual e artístico) de desenvolvimento do adufe como instrumento: identificar um problema estrutural ou hipotetizar sobre como uma modificação ou característica construtiva se poderiam traduzir numa melhor performance; construir o instrumento com as novas características, poder tocá-lo experimentando se realmente a inovação introduzida é impactante na performance como pensei; retirar conclusões, aperfeiçoar os conceitos.

Estou num processo constante de aperfeiçoamento dos instrumentos que construo. Faço-os como se fossem para mim, com as características que melhor traduzem a ideia de som que procuro, com o máximo de rigor, profissionalismo e qualidade.

Este processo de evolução e desenvolvimento tem sido sempre feito em grupo, primeiramente junto das Adufeiras, percebendo o que gostam, o que não gostam e o que acham que seria importante modificar. Paralelamente, com um grupo de consultores e parceiros estratégicos das mais diversas áreas, onde se promove a discussão de conceitos e hipóteses, as inovações, as técnicas e materiais de construção a utilizar e a análise resultados.

O objectivo sempre foi elevar a construção do adufe a um nível profissional, com mais qualidade sonora, versatilidade e fiabilidade, como instrumento de percussão que é. Essa tem sido a missão dos Adufes Rui Silva.

Sem dúvida que hoje se pode afirmar que as inovações que descrevo abaixo, associadas ao desenvolvimento dos processos artesanais que observei junto dos artesãos tradicionais, que aprendi e aperfeiçoei através da minha própria experiência de construção, deram origem a um instrumento muito melhor do que aquele que encontrei há 13 anos atrás, no início do percurso. A evolução na construção foi determinante na evolução da performance e naquilo que o adufe é hoje.

Este novo adufe é um instrumento e todas as suas novas características potenciaram a forma como se toca adufe e tornaram o adufe mais apelativo e universal.

Em 2013 criei o sistema de afinação. Um recurso inédito no adufe, desenvolvido no âmbito da minha tese. Até esta data o adufe era um instrumento de afinação volátil, que dependia das variações de humidade e temperatura e por isso, muitas vezes, posto de lado por parte de quem até o queria tocar.

Reduzi a quantidade de soalhas no interior do adufe para privilegiar o som da pele, a definição, a clareza dos golpes. As soalhas interiores foram trabalhadas para terem um som mais metálico possível e foram testadas várias soluções para a forma como estas se relacionam com a pele e com a estrutura dentro do adufe.

Em 2016, desenvolvi uma estrutura que proporciona a sensação de se estar a tocar em instrumentos diferentes, um adufe tradicional e um frame drum (que permite a exploração de técnicas com dedos).

Em 2018, introduzi pela primeira vez uma estrutura de espessura assimétrica, isto é, um dos canto do adufe é mais estreito, para ser mais fácil de segurar e tocar com a mão esquerda.

Em 2022, introduzi nos adufes maiores uma abertura na estrutura que permite colocar, retirar as caricas. Desta forma podemos escolher se queremos mais ou menos vibração das mesmas em contacto com a pele. (Penso que esta inovoção terá sido proposta pelo Pancho Tarabbia à Oficina Faceadinha).

Desde 2015 que utilizo madeiras açorianas (criptoméria). São leves e muito ricas timbricamente, o que potenciou a relação com o adufe, a sua dinâmica de movimento ao tocar e aumentou as possibilidades musicais.

Repensei e reconceptualizei praticamente todas as partes e aspectos da construção de um adufe, na prossecução do objectivo principal: criar um instrumento de qualidade profissional. Este caminho de desenvolvimento do instrumento rudimentar que havia antes de 2013 até ao presente, mostra-nos um percurso semelhante ao de muitos dos instrumentos de percussão do mundo, que hoje em dia são tocados profissionalmente e que conheceram uma evolução técnica, sonora e musical impressionantes.

O conflito causado pela inovação

Compreensivelmente, a inovação e a evolução do adufe nos últimos anos, provocou um certo incómodo, da parte de alguns construtores tradicionais, que vêem na inovação e na evolução um desrespeito do que é um adufe.

É feito um discurso sobre a genuinidade do adufe e dos seus processos artesanais, sobre quem é mais genuíno e autêntico, quem constrói verdadeiros adufes e quem não.

Há poucos construtores de adufes no país, mas há vários construtores novos, o que é assinalável. Todos os artesãos são importantes. O Adufe tem de continuar a evoluir.

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